terça-feira, 31 de julho de 2007
quarta-feira, 30 de maio de 2007
Da "trilogia da incomunicabilidade", de Michelangelo Antonioni

quinta-feira, 24 de maio de 2007
O Amuleto de Ogum (1974), de Nelson Pereira dos Santos

Uma provável impressão que se tem é a de que estamos face ao filme mais auto-reflexivo de NPS. Podemos confundi-lo à primeira vista com alguma empreitada experimental clichê que busca referências aqui e ali; porém, o que NPS relê é tão-somente fragmentos de sua obra, enviesando uma autocrítica dimensionada através do uso desenfreado da ironia. Não que a ironia seja dado novo a partir deste filme, mas se tínhamos nos filmes anteriores a ironia sutil, quase invisível, agora ela chega ao paroxismo filtrando signos com os quais NPS trabalha muito bem.
Por exemplo, mata-se muito em O Amuleto - um grande bangue-bangue; contudo, a estratégia não parece residir na atenção ao choque causado pela violência, porque antes reside na jocosidade das posições e situações em que se encontram as vítimas e os bandidos, nas fisionomias grotescas, nas palavras ditas antes da morte repentina, etc. O filme quer divertir, e bem o faz subvertendo uma série de discursos que ao menos até o final da década anterior indisporiam NPS com relação aos seus amigos do Cinema Novo. A saber, as questões de classe, posição do intelectual no processo político, alegoria e desencantamento são dados que, se aqui existem, moram no mesmo plano e sob a forma residual.
A montagem das cenas de perseguição e morte é brilhante, pois exorcizam absolutamente o humanismo que NPS incutia na representação até então e inserem um joguete com o seu já sólido legado, que consegue ser gritado na seqüência em que o herói, Gabriel – contemplado com o poder demiúrgico do corpo fechado -, atira no pescoço de um homem enquanto assovia A Voz do Morro. Nessas ocasiões, o que é sublinhado é mero trejeito e circunstância, quase sempre coroada com a leitura em grupo que o bando faz das manchetes dos assassinatos que comete, seguido de comentários que encerram boas piadas. E NPS consegue, ainda assim e doutra forma, continuar sendo o exato cronista do subúrbio.
Portanto, é da atmosfera então criada que surte o caminho da auto-reflexividade. E o que é isso? Talvez a atitude livre e descompromissada de um cineasta agora totêmico, que quer lidar com o circo da mesma maneira que suas personagens lidam com a morte, “dando na veneta”, para citar aquele que acaba revelando-se o único e verdadeiro detentor do saber e do poder no filme: mais uma vez, o repentista.
quarta-feira, 14 de março de 2007
Desajuste Social (Accattone, 1961), de Pier Paolo Pasolini


A verdade é que isto não recebeu continuidade em sua carreira, e Pasolini, nos próximos filmes, resolveu se imbuir até as últimas conseqüencias das liberdades do autor cinematográfico, algo ainda novo naquela conjuntura. Promoveu sua marca, enfim. E em Accattone, vemos alguns caracteres desta marca em estado embrionário e obscuro, coisas que iriam se ampliar nas pautas de suas polêmicas até a morte, em 1975. Cito dois: o tema da homossexualidade (Accattone, o herói, bêbado, com a cabeça no colo de um amigo, em raro plano longo do filme) e da morbidez buñueliana ao lidar com a iconografia cristã: contracampo final, após constatarmos a morte trágica do herói - lei cabal no código neo-realista -, um vagabundo laico faz um langoroso sinal-da-cruz, desconcertando a gravidade da cena. Fine.
terça-feira, 6 de março de 2007
Que Viva México! (Da Zdravstvuiet, Meksika!, 1931), de Sergei Eisenstein

No início, o prólogo, vemos imagens estáticas das pirâmides do México antigo e de suas estátuas deterioradas, erigidas pela nação americana mais desenvolvida da pré-colonização. Aqui já temos a noção de que a história do México até à Revolução de 1910 será contada desde o mais longínquo início. Há uma enumeração de aspectos das edificações, enquadradas junto a mexicanos nativos, fenotipicamente puros, descentes diretos das tribos que ali habitavam. O rigor que tange as composições cria uma esfera sensorial que nos distancia através do êxtase. A história aqui é operística e o aspecto da modernidade é ausente – como o será também no restante do filme. Enquanto isso, uma voz over lê o texto escrito por Eisenstein: “O tempo no prólogo é eterno. Tudo o que acontece aqui pode ter acontecido há vinte anos atrás, ou há mil anos atrás. Pedra. Deuses. E o Povo. [...] em um lugar onde o passado domina o presente”. Com estes caracteres, o filme promove a sua tônica que faz parecer que a história é contada como se estivesse acontecendo no momento da documentação. E o fascínio vem do fato de nada ser propriamente fictício. Os cenários são reais e os figurantes que nele vivem são nativos.

A partir daí o filme progride episodicamente, respeitando o ideal de verticalidade da representação construtivista de Eisenstein, referenciando também outras épocas e regiões do país, concernentes a períodos posteriores da História, por exemplo: temos o cotidiano das cantadoras de Sandunga e o casamento de uma delas; saltando para outro momento, para lembrar a conquista espanhola, temos uma longa seqüência de tourada, na íntegra, a primeira filmada no México. Nestes retratos, todas as ações que vemos os figurantes levar frente à câmara são meras execuções de ritos folclóricos e religiosos, absolutamente. Isto retira das pessoas que vemos qualquer possibilidade de subjetivação, já que estas fazem tudo automaticamente, levadas apenas pelo motivo ritualístico, lacuna talvez compensada pela descrição que Eisenstein as entrega.
O cineasta, a quem a xenofobia não interessa, investiga os cânones da cultura popular, e ao mostrá-los sob diferentes perspectivas e variações, promove uma reiteração que, aliado ao estupefante tratamento dado pela fotografia de Eduard Tissé, busca valorizar o povo em questão através do legado cultural que construiu em milênios. Os ideais virtuosos de humildade e trabalho são então atribuídos a eles por tabela. Conseguido isto, é chegada a hora de se instaurar o contraponto vilanesco dos colonizadores - mote maior da causa revolucionária - para então representar, numa empreitada alegorista, o que interessa a Eisenstein esclarecer no espectro da História.
